Cristão de Cueca: Caio Fábio, abrindo o verbo!

Súplica

Florbela Espanca

Olha pra mim, amor, olha pra mim;
Meus olhos andam doidos por te olhar!
Cega-me com o brilho de teus olhos
Que cega ando eu há muito por te amar.

O meu colo é arrninho imaculado
Duma brancura casta que entontece;
Tua linda cabeça loira e bela
Deita em meu colo, deita e adormece!

Tenho um manto real de negras trevas
Feito de fios brilhantes d'astros belos
Pisa o manto real de negras trevas
Faz alcatifa, oh faz, de meus cabelos!

Os meus braços são brancos como o linho
Quando os cerro de leve, docemente...
Oh! Deixa-me prender-te e enlear-te
Nessa cadeia assim eternamente! ...

Vem para mim,amor...Ai não desprezes
A minha adoração de escrava louca!
Só te peço que deixes exalar
Meu último suspiro na tua boca!...

APAIXONE-SE

(Para Aline)

Apaixone-se hoje

mesmo que amanhã perceba

que não terá valido a pena...

Apaixone-se por você

e perceberá que sempre valerá a pena...

Apaixone-se por suas amigas distantes

e pela menina louca que te beijou na festa

mas se apaixone de qualquer forma...

Apaixone-se pela sua ex-namorada

e pelos momentos que viveram juntos

e perceberá que serão eternos...

Apaixone-se pela boa música

pelos bons poemas

e pela sua familia...

Há quem diga que paixão não é saudável

E quem somos nós para vivermos saudáveis a vida toda???

Pois que ser saudável às vezes cansa...

Se apaixone hoje,

se arrependa amanhã que a vida é mutação

ou não se apaixone hoje e não terá do que se arrpender

e viver sem paixão ou arrependimento é desmerecer o coração...

FURTO DIÁRIO

Estou saindo de banda

Minha cara baixa denuncia meu erro

Minha falha

A história bem contada

Com pontos e vírgulas...

Mas ainda trago os mesmos brilhos

Dos meus tempos idos

a mesma vontade de ir em frente

a euforia

a emoção

as paixões...

ainda sou o mesmo

das praias de Saubara

das ruas de Paulo Afonso

das esquinas de Euclides

sou o mesmo da canções do Milton

das poesias de Florbela

dos votos no Luis

dos gozos homéricos...

estou completando o ciclo

que nem sabia existir

recomeço, renasço,

me alimento:

dos anos idos

dos cabelos poucos

dos dentes falhos

da barriga saliente

dos pés rachados

dos amores perdidos

das frutas de Petrolina e Juazeiro

dos livros lidos

dos poemas ressuscitados

dos empregos perdidos

dos projetos aprovados

das amigas idas

das inimigas vindas

de Cida Pedrosa em sua distância antiga

de filhos crescidos

das noras que não conheço

dos netos que virão...

já recomeço melhor que antes.

pois já sei:

“o ritmo dos quadris não obedece os do coração”

O teu riso

Pablo Neruda

Tira-me o pão, se quiseres,

tira-me o ar, mas não

me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,

a lança que desfolhas,

a água que de súbito

brota da tua alegria,

a repentina onda

de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Cristão de Cueca

O maior problema do homem é ele mesmo, e de vez em quando essa situação se inverte...

sábado, 17 de julho de 2010

Caio Fábio, abrindo o verbo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Conluiados